De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde (ANS), atualmente, cerca de 48.137.767 cidadãos têm planos de assistência médica no Brasil. É o maior número de beneficiários registrados desde 2016, apesar da crise econômica que assola o País hoje.
Dentre muitas possibilidades, esse alto número significa que, mesmo que o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha sido fundamental no controle da pandemia – da vacinação às UTIs – grande parte das pessoas considera gastar uma boa parte dos seus rendimentos para ter acesso à saúde privada.
Ainda que tenham muitos clientes, e recebam generosas mensalidades, os planos de saúde são negócios de risco. Isso acontece porque não há certeza de que os serviços cobertos por ele serão utilizados, nem quanto e nem quando serão utilizados. Dessa forma, para ser um negócio rentável, as operadoras calculam seus custos baseadas em estimativas que incluem idade e gênero, principalmente. E depois disso, dividem esses possíveis custos entre seus clientes.
Se ao analisar apenas a faixa etária e o gênero dos seus clientes as mensalidades já são tão diferentes, imagina se as operadoras de saúde tivessem como conhecer o histórico de saúde de cada pessoa? É possível que aqueles que já tiveram afastamentos por doença tivessem uma mensalidade maior, ou ainda que aqueles predispostos a desenvolver uma doença crônica também fossem cobrados a mais por isso. Ao conhecer o histórico de saúde dos seus pais, as operadoras teriam como fazer uma estimativa das doenças que você poderia desenvolver e te cobrar a mais por isso.
Esse enredo que parece ficção científica pode se tornar realidade. O banco de dados que possibilitaria essas cobranças adicionais já existe, mas é guardado sob forte esquema de segurança digital por duas empresas públicas: a Dataprev e o Serpro. Porém, apesar da importância do serviço prestado com excelência por décadas, o governo entendeu que é possível privatizar essas empresas.
Com isso, quem puder pagar mais pelas informações e dados de todos os brasileiros, levará também uma possibilidade quase infinita de usos para eles, todos eles bastante lucrativos e distantes do interesse público. Entre esses usos, está a venda dos dados pessoais para operadoras de saúde. Não só isso, poderiam vender os dados tratados para seguradoras como também para outros segmentos que pudessem alimentar algoritmos cada vez mais discriminatórios e excludentes com os cidadãos.
Os dados e informações de cada brasileiro, de cada empresa e do próprio Estado não podem ser usados apenas para gerar lucros para o setor privado. A função deles é a de possibilitar a melhoria das políticas públicas e da própria gestão do País.