Sogei, a estatal de Tecnologia da Informação italiana que foi reestatizada
Como reportado pelo o instituto holandês TNI (Transnational Institute), há um processo de reestatização ocorrendo em diversos países centrais do capitalismo, como Alemanha, França, Estados Unidos, Reino Unido, e Espanha. Ainda segundo o TNI, essas reestatizações ocorreram porque as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços estavam caros e ruins.
Uma dessas reestatizações, em especial, mostra como – ao tentar privatizar Dataprev e Serpro – o governo brasileiro vai por um caminho oposto ao que está sendo seguido por diversas potências mundiais.
A Sogei nasceu em 1976 como empresa de participação pública dominante para automatizar tarefas de Estado ligadas a tributações, como a declaração do Imposto de Renda e a arrecadação. Esta necessidade surgiu porque, em 1974, a Itália conduziu uma profunda reforma tributária que aumentou o número de contribuintes de 4 para 25 milhões. A empresa passou a ser controlada pela Telecom Italia em 1997; entretanto, quando esta foi privatizada em 1999, o comando da Sogei foi transferido à iniciativa privada.
Isso, porém, não durou muito, pois o Ministério da Economia italiano adquiriu todo o capital social da empresa em 2002. Com seu status de estatal retomado, a Sogei passou, desde então, a garantir a continuidade da operação de serviços públicos essenciais, tal como Dataprev e Serpro fazem no Brasil, utilizando os conhecimentos técnicos e fiscais do corpo funcional para alavancar e potencializar políticas de Estado. A estratégia teve tanto sucesso que o papel da Sogei só ficou maior desde então, com a empresa se tornando o único parceiro tecnológico do Ministério da Economia da Itália e atendendo também a diversos entes do governo daquele país.
Atualmente, mais uma vez espelhando o trabalho que é realizado por Dataprev e Serpro dentro do governo brasileiro, a Sogei coopera com os seus clientes em setores altamente estratégicos para o país, desempenhando um papel central no processo de digitalização da administração pública por meio do desenvolvimento de soluções que permitem a interoperabilidade cada vez mais alta entre os órgãos do governo.
Estas informações podem ser conferidas tanto na página do LinkedIn da Sogei quanto no site oficial da empresa.
O Brasil, assim como a Itália e muitos outros países, se manterá como propulsor de sua própria transformação digital, como guardião dos dados de seus cidadãos, e como mantenedor de sistemas críticos para o funcionamento de sua economia, ou optará por entregar todos esses itens estratégicos nas mãos de terceiros?
4 comentários
Entregar os dados públicos para iniciativa privada não se mostra um bom caminho. O governo deveria repensar e não privatizar SERPRO e Dataprev.
Pois é, Matheus. O país está abrindo mão da sua soberania e do seu dever de proteger a privacidade dos cidadãos.
Quando a atividade privada direciona seus objetivos em busca do lucro não se preocupa em resguardar os interesses dos seus clientes. Vide os processos das multas recebidas e penalizadas no mundo pelas empresas como Microsoft, Google e Facebook. Estas e outras empresas similares tratam seus clientes e usuários discaradamente como mercadoria, em prol do seu próprio enriquecimento.
Pois é. E tudo fica pior quando os serviços que são vistos meramente como mercadoria são essenciais para o funcionamento do Estado, como pagamento de benefícios previdenciários, processamento do imposto de renda, controle de exportações e importações, e muitos outros que são feitos por Dataprev e Serpro.